3.6.09

outro lado I

ele vai chegar, cheirando à cerveja.
se atirar de sapatos!, e dormir na hora, murmurando:
- dora...
(e você, é maria.)


sol no rosto, nos braços, nas coxas úmidas. e dora lavava o lençol manchado. sexo bom, esse da noite. amôr, ela supõe. quase até murmura, 'meu bem'.
ele chegou meio bêbado, dora nem liga. bateu no rosto, no corpo. e ria, na pele morena. e quando é que ele suspeitava que ela queria um beijo, um amôr?
pois bem, dora revolveu botar roupa-de-casa, pro amor nascer. deixou a flor no cabelo, deixou o cetim caídos pelos ombros. e baton carmin, então?! nunca mais, nunca mais.
- há de me amar.
quando ele chegou, dora sorriu, baixou os olhos. trocou o beijo de lingua, molhado, por um sorriso. e ele nem percebeu o universo desabando em bolhas de sabão.
- comida, preta? de onde é isso?
- eu que fiz.
- me dá cachaça...
- qual o quê!
e nada da branca, e nada da morena. só aí, que ele viu. dora tinha as unhas côr-de-nada, no corpo um cheiro de suor e cebolas. do carmim não se tinha notícia, nem do seu perfume ordinário. aqueles cachos pretos, que se esparramavam pelas costas, num trapo de chita qualquer, amarrados. C-O-Q-U-E.
e ele foi pegando um nojo. na comida, nem tocou. e já não tem prazer no sexo sussurrado, sem gargalhadas. não gozou.
dora botou cada desejo no feijão. passou uma folhinha de alecrim pelo corpo, pra ter cheiro de casa, de lar. se vestiu de mulher-da-vida inteira.
e, que sexo bom. e que homem bom que ela tinha, meu deus. dora sabia fazer amor, e nem sabia disso. e quando quase gozou, pela primeira vez na vida,
ele saiu,
levantou,
se enfiou na calça,
não fechou a camisa.
e dora sem entender nada.
- vou voltar pra maria. mulher por mulher, já tenho a minha. vocês estragam fácil. e deixe que janto em casa. com a mulher que sabe o que eu gosto.
dora tomou um copo de cicuta.
(antes da porta abrir, maria mistura chumbinho no feijão.)

4 comentários:

Caranguejo Excêntrico disse...

Fascinante.

Jaya Magalhães disse...

Ô, nega! Que texto bom é esse? Que meandro é esse que você tem de me botar assim, vidrada, quando resolve brincar com as palavras?

Eu sempre soube que sentia saudades de te ler narrando, Lua. Mas quando leio, fico achando pecado demorar tanto pra nascer.

Doras, Marias... Nós.

Isso vai continuar? Deuzemais. No aguardo, então.

Beijos todos, nocê.

Xavier disse...

Andei sumida por causa do final do semestre, mas cá estou...rs

Texto curioso... Terá continuação?

Bjos e td de bom!

Jaya Magalhães disse...

São Paulo deveria ser aqui, ao lado. Deveria ter a distância de um abraço.

É meu pedido, pra hoje.