8.4.08

(contra-)Senhas: a cidade e seus símbolos I

cidades vertiginosas, edifícios a pique,
torres, pontes, mastros, luzes, fios, apitos, sinais.
sonhamos tanto que o mundo não nos reconhece mais

Dante Milano. Jornal de Poesia.


Queria escrever essas idéias há tempos. Mas me faltava ganas. E, bem, agora...
Me assusta o tanto de informações desnecessárias que bombardeiam meus dias. "Antes de entrar espere que os outros saiam". Pôxa vida. Me parece um tanto óbvio que você vai ter mais espaço dentro do metrô se quem for descer na estação já estiver do lado de fora. "Não segure as portas, isso provoca atraso em todos os trens". Não me parece estupidamente divertido machucar os braços tentando segurar a porta aberta: se os metrôs circulassem mais rapidamente com mais trens, é claro que a lotação seria bem menor. E, assim, seria desnecessário segurar portas que se fecham antes que você possa entrar. E se eu fosse falar só do metrô, eu podia escrever um tratado.
E os semáforos? Pedestres furam os sinais a todo momento, correm, se arriscam. Automóveis por sua vez - creio que o motorista perca instantaneamente a sua humanidade sobre 4 rodas - querem chegar. A qualquer lugar, contanto que seja rápido. Estupidamente rápido. Motoristas-monstro matariam todos os pedestres e ciclistas, se pudessem. Ainda que isso incluisse a si mesmo, até mês passado. Não importa. A cidade é dos motorizados. E, digo mais, dos motorizados particulares. Que ônibus devia virar pó. E aquele maldito corredor - no qual os mais inteligentes sempre podem entrar e ir muito mais ligeiramente -, idem.
Os exemplos são infindáveis. As marcas que nos atacam a todo momento. As idéias vendidas de beleza, sucesso, felicidade num pote de margarina, num creme de cabelo, num carro do ano. Os medos incitados de sair, de cair, de ser, de pensar. A massa. Desindividualização.
Quem me conhece, já deve estar cansado desse meu discursinho sem fundamento, sem teoria do auto-governo. Mas não me canso de achar que sim, cada um tem auto-governo em si e que basta que isso não seja tão completamente morto pela sociedade que incapacibilita o indivíduo de pensar por si e saber dos limites de si e sua necessidade para o outro, a forma de agir não-egocentrista, que tirar vantagem em tudo só vale se a vantagem é pro bem comum. E nunca é.
Embora pareça estúpido, eu acredito nisso.