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18.3.14

ano novo.

essa angústia. não sei como dissolvê-la pelos anos a se passar. somos todos miseráveis, azuis e hipócritas.
essas lágrimas incontidas, a eterna dúvida sobre desejos, certezas, espelhos. lamento-culpabilizo essa leveza de âncora que meu espírito tem, quando eu só queria ser passarinho.
continuo sendo a chave e a solução do mundo, acredito nos astros e nos filósofos, nas plantas e nos abraços. duvido muito do amor, e isso é novo, errado e incômodo.
meu peito é de giz de cera, gesso e biscoito. meu peito é de sal de fruta, de fogos de artifício, de efeito moral. meu eu é qualquer coisa que eu queria poder transformar em versos, mas eu não posso. eu queria ser filme, poesia, história e sonho, mas a vida é real e todo dia, e isso não será simples sempre.

sobreponho as ideias tentando encontrar quem eu sou. não consigo aceitar que não posso. eu nunca fui boa em reconhecer os limites.
morro de saudades. vou me equilibrando, só o bastante pra não cair. esperando que os dias se consumam mais depressa.

11.12.12

Prelúdio.

- mexe qualquer coisa dentro doida
já qualquer coisa doida dentro mexe.
(caê)

Como num bordado imenso, a beleza, a bossa vêm da repetição. Esperamos com calma o tempo de trançar as linhas que esboçam um desenho que não enxergamos, porque enorme. Que não tem fim, porque espontâneo. Não sabemos o que virá. Como virá. Se virá. 
Sei dos matizes, das cores, dos tons. Sei dos cinzas, dos hiatos, dos nós. Se enquanto traçamos sobram-nos as lágrimas e os ais, faltam as razões, desviram-se em fins. E só quando se torna passado enxergamos a luz e os brilhos, porque tem escuridão. Os vazios delimitam os detalhes mais sutis. Mais nossos. Ainda que o tempo-espaço seja cruel e fira os desejos, extrai com cuidado os aromas mais profundos. 
Somos bicho, pele, cheiro. Fome, instinto, tesão violento. Fluídos, suor e sangue. Numa noite carregamos energia luminosa para clarear os caminhos tantos outros. Expostos.
Somos verbo, poema, canção. Escolhemos a dedo as palavras-imagens que se erguem como castelos entre nós. Translúcidos e etéreos, juramos sob a lua vazia as delicadezas que só cabem a nós. Que esmiuçamos  ao longo das noites mais molhadas de saudades e desencontros. Delicados.
Afino meus gestos para seus acordes precisos. Sinto a pele, as ideias emaranhadas. Me misterio para você descobrir. Desabrocho, para você me tocar.

26.9.12

Quando foi, já não quis

De sonhos intranquilos, um susto me acordou. Lentamente, tomei consciência de mim. De você. De teu corpo apertado contra o meu. Dos cheiros da nossa saliva e da nossa transa. Esses cheiros velhos conhecidos, sua  pele que meus dedos sabem de cor, meus cabelos enrolados nos seus. Te descubro entre meus braços, respirando calmo teu sono sobre meus meus poros.
Te olho, e você não me comove mais. Não tenho mais ganas de desbravar seus sorrisos nem lamber suas lágrimas. Não quero mais entender seus mistérios (os mistérios que já conheço, acho enfadonhos, aburridos, sem graça). Não sinto mais meus futuros encarcerados nos seus caminhos, seus dedos não podem mais desabrochar meus segredos. Enquanto você dorme, não me lembro da cor de seus olhos. 
Engulo seco, minha racionalidade me convence aos poucos. Ainda assim, meus olhos marejam, eu busco no seu suor delicado qualquer essência de amor. Viro seus braços num abraço em mim e, encarcerada na sua pele, murmuro e peço para sentir eternidades.  
Rumino o que será dos meus desejos, que tanto quis eternos. Dos meus sonhos de futuro, abrigo tranquilo na contramão dos dias de terror e amor. Penso no que simbolizava esse querer bem: as esperas adolescentes. O  pé no passado, estanque, eterno, imutável. A raiz latente de flores monogâmicas e frutos-filhos. O desejo pueril de um conto de fadas moderno, um final feliz démodé, com dedos enrolados e rendas de cumplicidade, tecidas com calma pelos passar do tempo. Penso na distância em que essas possibilidades se perderam, descabidas, sem sentido, retrógradas. 

Te acordo, para dividir mais um orgasmo.
Fumamos em silêncio, cansados e sorridentes. Sei dos encontros que ainda vão acontecer, porque nossa pele é feito um ímã. Entre um beijo e outro, tento entender o que somos nós dois, e por que somos assim, mas a adrenalina e a nicotina embaralham as minhas ideias.

Como brilho eterno de desmemórias esfumaçadas, te enxergo enquanto adormeço. Você parece um sonho encostado, empoeirado, entre cílios e memoráveis acordes.

1.8.12

Declaradamente #2


Na agonia da insônia, pensei em você. Acho seus olhos engraçados, mas tenho vergonha de dizer. Miúdos, espalhados, são olhos engraçados, meu bem. Fiquei lembrando da primeira vez que me vidrei em você. Eu desarmada e tu me diz: é, e tu fica linda assim. Eu, que nunca vali nada, fiquei toda derretidinha nas suas doçuras, e queria fotografar seus olhos naquele instante. Insanos, loucos, apaixonantes. 
E eu, que gosto da tua boca e do teu cheiro e do teu sexo e dos teus pelos, fiquei gostando muito de tudo, e achei até que era um gostar meio errado. Fiz errado, porque é o que faço melhor, e num mar-de-verbo falei tudo aquilo, que eu nunca devia, do pior jeito e fiquei quadrada, intranquila, medrosa. Mas o tempo foi amigo, andou e desachei errado. Achei até bem certo, ser de impulso nos amigos do estrago.
Fiquei querendo dedos-abraços-segredos-tempos-colados. O tempo foi virando fumaça, os encontros rarearam, e com eles a paixão. Fico, boba, com o coração molinho de te ver, todas as vezes. Mas fico pensando, em suspiros, que tenho mais saudade de ver seus olhos calmos e saber que tenho um cúmplice de sempre, de todo dia, meio adolescente, de contar meus medos sem ficar vermelha. E abraçar.

Ah, não existe coisa mais triste que ter paz.

16.6.12

Declaradamente #1

#1
Pele. 
Tu é todo pele em mim. É cheiro e calor, maciez e delicadeza. Gosto dos teus lábios, teus dedos, teus mamilos. O cheiro que se cola em tudo, em todo pano, no meu cabelo. Essa vontade persistente de te olhar só por olhar, e me grudar no teu peito pra deixar seu cheiro fluir. Uma doçura, um desrumo, uma paixão. 
É isso, me apaixonei.

#2
Verso.
Me sinto num livro antigo, já meio puído quando vejo seus olhos perdidos, intensos, profundos. Me sinto qualquer e generalizada, atemporal, sem nome. Me sinto tão tua, entregue. Teus verbos vão se alojando sob a pele, brasas do meu tormento. 
Traço e sangue, tatuagem.

#3
Azul.
Estrela, lua, tem sempre todo dia. Tem vaga-lume, nuvem e mil tons. Tem meu amor.

24.6.10

Agora nada mais importa.

- Faz silêncio.
A cidade parecia dormitar, nenhum carro, nenhum pássaro, nada. Parecia inteira em silêncio. Ouvia a minha respiração e sua, e as nuvens quentes que se faziam entre nós.
Você olhava pra cima, como se esperasse algo. As folhas sacudiram de leve, e o barulho era sutil, arrancava sorrisos e olhares cúmplices.
Quando você decidiu andar, meus saltos ecoavam muito longe, nem parecia a vida, parecia um filme, e eu gostava de ser personagem, de ser seu par.
Debaixo da luz amarela, corremos para quebrar os silêncios, corremos pra minha cama e afogamos juntos nossas solidões.

Hoje a cidade parece estar de novo a cochilar, muito quieta, como se esperasse comigo a hora de você chegar.