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11.7.12

Descaminhos.


Eu saí de casa ainda mais cedo. Queria te comprar flores, só pra te ver perder o jeito, ficar calada, oblíqua, vermelha. Ensaiei mentalmente como enlaçaria sua cintura e como seu riso seria frouxo e tímido. Ensaiei olhares, preparei meus melhores versos, para que soassem naturais. Tingi tudo quanto pude de vermelho.
Brinquei de pisar nas pontas dos pés, brinquei de ter notas musicais nas calçadas. Eu te levava um sonho musical de muito tempo, um desejo bruto e sublime, eu te levava meu peito aberto. Eu levava toda a minha paixão adolescente do amor de longe, eu levava todo o tesão de amar as pequenas. E tinha muito caminho para os meus pés.

MAS.

Os pés trilharam rumos que eu não sabia. A vida me cobrou mais alto do que eu sabia gritar de volta. Fugi do teu caminho, mastiguei uma a uma as pétalas das rosas. Andei o percurso inverso, sem nunca ter te estreitado num abraço, com o peso da culpa e uma enorme ausência de você.
Passei o dia na cama, febril, ensaudadecida, cansada. Sinto falta dos teus dedos no meu cabelo. Queria ter sua pele acariciando as inflamações oníricas da minha pele. Queria dormir no teu colo seguro, antes de a vida voltar a ser real. 
A respiração desafoga, é superficial, o sono lambe minhas pestanas e te encontro num lugar a salvo do mundo.

11.11.08

O céu nublado, a noite já se alonga. Respiro fundo. É bela, a rua da minha casa. Por vezes, acho que o peso da mochila pode cortar meus ombros. E rio. Descer a rua de casa, sozinha, virou um desábito. Coisa que muito me chateia, que é só em solidão que a rua transborda em poesia.
Sinto o vento em brisa, lambendo a pele em brasa. Duvido de antes. Houve alguma noite antes de hoje.? O barro no meu tênis velho, rasgado. 'Muitas noites, antes', ele me diz. A voz rouca, a pele queimada, as marcas: tudo aqui. Corrompendo tempo-e-espaço, meu passado coexiste em mim agora. Tudo em mim palpita.
Fecho os olhos. 24 horas antes, eu estava em cima da pedra mais alta. A insanidade fazia minha mão tocar deus, e deus existia. Deus era azul, com estrêlas. Deus tinha caule, folhas, raízes, orvalho. Deus, era tudo e nada, era a pedra, era cada um de nós. Era a fumaça, o liquido, o sexo. Profanodeus, era deus de verdade. A pedra fria me abraçava inteira, meu umbigo era cordão umbilical de deus. Eu, mãe; eu, filha. O mundo e eu num infinito, sem começo. Respirei fundo, e existir era simples.
O céu cheio de sol, lua, estrêla. De resto, era tudo vaidade.

~*

(felicidade demais assusta.?)

5.11.08

Ervilhas são verdes gotas. Pingam redondas, perfeitas. Da áurea perfeição, faz-se muitamente metades. Sólido degradé se enrosca numa fundura infinita, de prazer latente.
Deixo de ser organismo. Eu inteira sou dedos, pele, tato. O carmin de mim já não inspira volúpia. O carmin é desejo-de-carne, inteiro. O desejo tem verdecôr.
Num gôzo silencioso, reviro os olhos. Afundo dedos no íntimo verdejante do sabor escondido. Arfo. É doce existir. É doce ser tato, memória, desejo.

(o mistério da lingua coexiste na água-de-pular, e sal.)




- era dia de sonho. havia a vontade de Amelie Poulain. e, tinha na memória Charlie e Lola ( 'eu nunca, nunca mesmo vou comer tomate')