9.3.10

"O problema da Luara é que ela não tem problema."

Um cara que era amigo, amigo mesmo (e agora me ignora no ponto de ônibus, que engraçado) me disse isso uma vez. Nem deu pra atribuir à cachaça, porque estávamos a caminho do bar. Aquela frase ficava ecoando.
Não tem problema, peraí. Começa que eu nem gosto que me chamem de Luara! E nessa época eu ainda estava no armário, em muitos deles, o cabelo era um problema, a sexualidade era um problema, o peso era um problema, a minha mãe, a minha família, o quase-pai, a militância... A minha vida era um lugar chato, bem chato.
Naquela época, eu não tinha problemas. Só bulimia, anti-depressivos, lítio (um abraço na galera bipolar), e um ano, sim, eu disse um ano sem sequer beijar alguém. Quem dirá sexo, pff. Eram tempos cascudos, mas você não conhece pessoas e diz: oi, sou bulímica e tá na hora da minha tarjinha preta, bjs. E o medo dos meus problemas feiosos e idiotas serem descobertos, me fazia ser assim aos olhos dos outros. Sem problemas.
Agora, tanto tempo depois, não tenho mais aqueles problemas, e parece que venho me livrando daqueles que adquiri ao longo dos anos, uns quatro ou cinco anos. Tirando os óculos (falando nisso, cadê eles?) e a mais plena falta de perspectiva de me formar em menos de anos, não tenho nenhum problema, obrigada. É verdade que eu queria amar esse ano, mas vou bem sem o Amor, seja como for. Meu cabelo tá ótimo, minha maquiagem é boa, e a cabeça está bem, no lugar. Não tomo mais porres, não abuso dos psicotrópicos e o cigarro não me incomoda, ainda (queria aproveitar e dar um beijo no coração do Serra e do Kassab, vocês são fofos).
Não queria ser gorda, é verdade, mas só faço dieta se der vontade. Senão, a vida tá aí e eu não vou perder meus dias tentando diminuir números; até porque um créme brûlèe é mais aprazível que ser chamada de gostosa no metrô, pelo menos eu acho.
A crise existencial vai bem, obrigada, ela nunca parte de verdade, mas daí a dizer que a culpa é minha já é demais. A culpa é do mundo e do Sartre, ninguém me consultou sobre nada, estou limpa nessa.

A bem da verdade é que me assusta. Estou na porta dos 21 e tranquila. Tenho chorado pouco e não pretendo fugir para cidade alguma (mais um salve pra Luiza!). O caso é que o tempo passa e até a crise perde a graça: está tudo bem sem ter amigos, está tudo bem sem me dividir em montes de pessoas que me entendam. Não tem o que entender. Estou beleza na represa. O cara que eu queria namorar? Depois de tantos anos, ele ainda não entendeu? Pois é, que chato, eu vou ter que esperar, mas isso não é motivo pra nada, no máximo pra mais um café, acompanhado de cigarro.
Sem contar que desemprego é uma dessas felicidades sutis que o mundo modernos nos priva, verdade seja dita! Que delícia. Não fazer nada, descansar depois. Ler o texto da aula, o blog do vizinho, um bom livro. Acordar, tomar café e voltar pra cama. (Se eu acreditasse em deus, fato que ele ia vender brinco de arame na praia e viver muito numa nice.)


O meu problema é que eu não tenho problema. Todo o resto, é consequência.





(quem leu tudo, quem já me viu em crise ou acha que o meu problema é outro e vai me dizer qual é, escreve pra mim, que eu te pago uma cerveja e tudo fica bem, ok? lua.museologica@gmail.com)

4 comentários:

flor disse...

Eu li tudo. ^^

Sabe, me deu uma saudade daquele dia que tomamos um café, depois uma cerveja e demos várias risadas =D.

Um beijo, Lua.

Jaya Magalhães disse...

O problema é que eu te amo.

Dois cigarros e um café. disse...

Luara* lindo nome, minha prima tem um desses....

Bom, ninguém tem problema na verdade é tudo só um montante de escolhas que temos que fazer ou não... o resto é só o tempo mesmo, ou a birita, ou tudo isso junto....


Beijundas ^^

flor disse...

Obaaaa.
Então, vamos marcar, Lua linda ^^!!!!