2.4.11

Aclimação, 20.set.09

Ensaio os minutos no abrigo, agora quando sabemos o que não é mais físico para ser lar. O mito de afago está, por enquanto, em muito cantos, e talvez nem se chegue de fato a ter um lugar único, e propício ao sentir intenso que se dá em tantos cantos.
O dia claro e cinzento lá de fora torna qualquer coisa mais acalentadora dentro, o que basta saber é se está dentro do espaço, ou dentro de nós mesmos. E, como sempre, se é que foi criado assim, que se mantenha a eterna fórmula, que é sabor que dá a liga do tempo não esgarçar, e é querer prazer múltiplo e saber tê-lo nesse nó, que mantem os caminhos, a se cruzar e afastar diversas vezes, se não pelos horizontes, mas quando se é de olhar para trás.
O som não diz palavra, e assim enovela, como se fossem versos intensos, carregados de mudos significados. É de não saber as memórias que trazem, como o bom sexo ou uma noite insone, mas trazem, e muito. Trazem do silêncio e dessilêncio de uma história bruta da qual não precisa se lapidar por ser interna e explícita, quase caótica.
Não tento mais experimentar o gosto que me era pessoal de buscar as explicações, quase me convenço de que são débeis e desnecessárias. Experimento o gosto coletivo de fazer coisas fluidas, naturais, impulsionadas. É de desistir do desejo autodestrutivo de abarcar todos os caminhos no meu, me desisto de ser única, interina, inesquecível; e é sem dor que assumo calmamente o papel de humano, puro e simples, passível de ódios e esquecimentos: etérea, delével.

E enquanto nada me dói, me acariciam os olhos gestos simples, não pensados, e a voz que lê sem titubear o que me parece inescrupuloso, inescrupulosos significados da palavra amor.


(tanto tempo depois, sinto ainda igual.)

Nenhum comentário: