21.6.12

Pré.

A respiração se prolonga, afunda, invade. Parece que meu corpo inteiro se dilata a cada inspiração. O ar sai quente, carregado, sonoro. A próxima inspirada ainda mais lenta, demorada, presa. A garganta insiste em engolir isso que não está na boca, que não está na lingua, que não está. Que sequer existe. E ela engole. Os olhos coçam como se cheios de areia e eu não ouso coçá-los. A ponta do nariz se desvira num líquido quente, tenho certeza que ele se desmanchará. Um tamborzinho bate em cada ouvido, furioso. Os lábios queimam.
A respiração perde o rumo, os olhos encharcam, a voz calada vira um lamento, e o corpo dança, estirado na cama, o rosto preso no travesseiro.


livremente inspirado em Instruções para chorar, do Cortázar, 
no Histórias de Cronópios e Famas.

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