7.11.08

amôres brutos.

você vem quieta no meio da noite
sussurra ao meu ouvido
me arranca da cama.
durante horas eu sou tua
enquanto eu devia dormir
em te amo em segredo, sem que ninguém veja

acordo sem forças para o trabalho, mas eu vou
enquanto você dorme serena no travesseiro
você abusa de mim como se eu fosse a sua escrava
porque sabe que eu te amo
e que eu te amo tanto que eu nunca digo não
não importa o quanto seja necessário o não
eu sempre digo sim
e quando acaba, eu sempre quero mais
eu preciso de mais
porque eu tô viciada em você
você sabe que eu quero só você
só você e ninguém mais
você me faz acreditar que é só minha
quando se joga ao meu lado no meio da madrugada
mas eu sei e você sabe que é de muitos
enquanto a solidão me afoga no meio da noite

você se enrosca
vadia
entre outras pernas
entre outros braços
entre quaisquer pernas
e quaisquer braços
como uma puta.
mas quando volta
é minha doce amante
minha primeira namorada

você mente! friamente
eu me apaixono... loucamente
porque você é barata e bonita
me abraça quando tenho frio
e me beija a boca quando amo
e você me faz crer que eu posso tudo
quando você sabe, Palavra, que eu não posso nada
você se faz versos, Palavra, em minha boca
quando eu só queria um abraço.

a Palavra vem
ela sempre vem
mas só quando ela quer
e nunca quando eu peço

5 comentários:

flor disse...

Eu que me apaixono loucamente cada vez que venho aqui.
Adoooorei
Beijo, linda ^^

Tânia N. disse...

Apaixonante mesmo...lindo!

Filipe Garcia disse...

"E a palavra vem
Pequena
Querendo se esconder no silêncio
Querendo se fazer de oração"

Seus versos me trouxeram essa música do Teatro Mágico. Linda, por sinal.

Essa tal briga com a Palavra, eu também conheço. Saio aos tapas com ela, rs. Não obedece. Tem vez que não vem nunca, tem vez que vem demais.

Gostei do tom do texto, Lua. Você tratou a Palavra como amante. E creio ser bem assim mesmo: um eterno romance cheio de reviravoltas.

Beijo.

A Maya disse...

Uau, eu realmente gostei.

Creio que esta sua amante também tem me causado insônias...

Um beijo.

Jaya Magalhães disse...

Ah, esse amor urgente! Rs. Esse negar, toda hora. Quando a gente quer, ela se indispõe, como quem diz: “hoje não, amor, tô com dor de cabeça”. E a gente fica lá, sem saber onde descarregar o acúmulo de desejo. Haha.

Lua,

Eu já li tantas vezes esses versos, sabe? Salvei aqui, pra mim. Que eu tive vontade foi de imprimir um monte de cópias e sair distribuindo por aí. Porque o mundo merece conhecer essa ferocidade palavreada em torno delas mesmas, as palavras.

“Palavra minha
Matéria, minha criatura, palavra
Que me conduz
Mudo
E que me escreve desatento, palavra

Talvez, à noite
Quase-palavra que um de nós murmura
Que ela mistura as letras, que eu invento
Outras pronúncias do prazer, palavra

Palavra boa
Não de fazer literatura, palavra
Mas de habitar
Fundo
O coração do pensamento, palavra.”

(Uma Palavra - Chico Buarque)

Eu tive de transcrever uns fragmentos dessa música de Chico (que eu só conheço em versos, sem melodia), porque o casamento foi instantâneo, em mim. Como se viesse à tona um amor bruto, mesmo, entre as duas poesias que viram uma só. Coisa de palavras. Vocês se entendem. E eu aplaudo.

Te beijo-jô-jô!