3.11.09

a day in the life.

black bird me acorda, cada dia um tanto mais cedo. cada dia soneco menos, cada dia levanto mais rápido, de um sono sem sonhos, e curto.
antes de botar os pés no chão, tateio o criado de improviso, engulo 2 pílulas com mais água do que o necessário, e a sede é muita.
me roubaram uma hora de vida, e são paulo ainda tem aquela cor encardida do amanhecer,
que eu quase não vejo. a janela quebrou, e não tive tempo de ligar e dizer: quebrou. arruma?
sem nem sentir qualquer gosto, engulo um pote de iogurte, que me salve da gastrite, que cultivo carinhosamente os dias todos. gosto mais de sair pra subir a rua, olhar os ipês amarelinhos, e roxos, enquanto trago os cigarros furiosamente.
alguém grita qualquer música saxã na minha orelha, que os dias azuis da tropicália já se foram, e só a saudade não é o bastante pra trazê-los de volta.
trabalho.
cada dia menos tempo de tirar os óculos, cada dia menos tempo de jogar conversas fora. aceito mais trabalho pra casa.
cada dia mais amarga, mais séria e menos colorida.
anseio o almoço, tomo uma sopa de pacote, que daí tenho mais tempo pra mais cigarro e mais trabalho.
tenho medo de virar uma workaholic desendinheirada, pelo simples prazer de encher esses dias em que já não amo pessoas com qualquer coisa que pareça justa, ou interessante.
anoto na agenda coisas interessantes que o cansaço ou o trabalho não me deixarão fazer.
no ônibus, penso se devo acender um cigarro, mas eu nunca acendo. em casa, como enquanto vejo uma novela qualquer, que eu odeio, mas vejo.
jogo umas conversas fora, asso, recheio, confeito cupcakes, que não como. sorrio amarelo pra minha mãe, e tenho medo do dia em que ela morrer, e nisso eu penso todos os dias.
não planejo o fim de semana, não planejo os dias, não planejo coisa alguma, só espero.
deixo o relógio avançar até o limite, nunca depois das 3: eu já evito olhar pra saber que me atraso pro sono.
fumo um último cigarro, odiando o corpo todo, amando o cabelo todo. a bolsa da natação me espera. ansiosa, suponho.

ajeito as almofadas, de modo pode deitar e ler umas mafaldas antes do sono, sem sonhos. um minuto antes de dormir, tateio o criado de improviso.
ai de mim, se as pílulas não estiverem lá.

2 comentários:

Marcelo Mayer disse...

ótimo!!!! I read the news today, oh! girl!

Desmanche de Celebridades disse...

Um post com nome de música dos Beatles só pode ser bom.
Abraços.