15.4.11

Doce de chocolate com morango.

Eram 3 da manhã, e ela correu, correu de tudo, correu da vida e das obrigações, da dieta, do padrão. Correu do marido e dos filhos que a esperavam, correu da panela em fogo baixo. Correu, simplesmente. Correu da forma mais complicada.Correu tanto, tão mais rápido que tudo, que muito certamente ela flutuava e não tocava mais o chão. O vento era tanto e tão forte que o cabelo voava, os olhos lacrimejavam. Ela não ia mais voltar, ela ia correr pra sempre.
Ela chegou ao seu destino, eventualmente, e parou. Parou simplesmente da forma mais complexa. A quietude, a paz, a estabilidade. Era tudo encantadoramente estático, todo o mínimo movimento se fazia sentir. O calor das faces, a respiração agitada, os batimentos fortes e intensos. Era lindo.
Ela foi até a padaria, comprou um doce de chocolate com morango, e o comeu como se fosse a única, a última, o pródigo, com seu passo tímido. O doce a enjoou, a quietude foi ficando gosmenta e pesada, e ela não a queria mais.
A vida, eventualmente, passou pra buscá-la e ela correu de novo, pro outro lado, longe dela. E nem ela mesmo sabia pra onde. Correu pela contramão e pelo caminho mais difícil e mais enrolado pra chegar exatamente onde deveria e lá ficou, novamente estática, até se mover de novo.

A Lulu escreveu tudo. Porque às vezes ela enxerga o que eu não sei ver.

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