12.9.11

Festa estranha com gente esquisita.

Uma festa numa casa, em Londres, numa época indeterminada. É o tipo de festa que você vai porque promete mudar a sua vida para sempre. E porque todo mundo vai. Você entra, segurando uma garrafa, olha todas aquelas pessoas em infinitos estágios de embriaguez, com estilos tão diferentes que você não consegue imaginar quem pode ter organizado aquilo.

Tocava uma música estranhíssima - que parecia uma mistura de Beatles ié-ié-ié com Nirvana, mixado por fãs de Daft Punk - quando a menina se deu por vencida e sentou num sofá. Fechou os olhos, deitou a cabeça para trás e deixou os braços soltos ao longo do corpo. Discutir com bêbados já é difícil num ambiente calmo; com aquela música infernal é impossível. Depois de um tempo tentando - em vão - arrumar os pensamentos, tomou um susto ao ouvir uma voz ao seu lado.
- Que festa, hein.
E isso foi dito com um tédio infinito, por um rapaz loiro, de óculos escuros. A expressão de estranheza dela fez com que ele disse:
- Ressaca. Por isso os óculos.
E como não tivesse nada melhor pra fazer ali, começaram a conversar (enquanto um grupo de - talvez - teatro arrancava a roupa, recitando a bíblia, ora em aramaico, ora em inglês). Ela argentina; ele ianque. Ela estudava RI, estava em intercâmbio; ele tinha ido de férias há dois anos, acabou arrumando um trabalho como cartunista e ficou. Ela vegetariana, por ativismo; ele vegetariano, "por nojo, mesmo". Ela escrevia como correspondente pra um jornal estudantil na sua universidade de origem; ele evitava ligar para os pais (único vínculo que ainda tinha nos EUA, além da excêntrica ex-namorada Susie, com quem trocava postais) mais que uma vez por mês.
Por fim, sentaram do lado de fora, onde estava agradavelmente menos barulhento, e descobriram afinidades impensáveis. Acabaram travando uma discussão sobre os problemas da humanidade (ele, com um tom anárquico, queria dizimar as regras e todas as hierarquias de poder; ela acreditava nos movimentos populares e na boa governança, ainda que não convictamente). Partilharam suas ideias sobre o cosmos (ele admitiu que, secretamente, esperava viver longe de tudo e de todos, num planeta só seu, com tv e microondas; ela dizia achar triste que a humanidade já mapeasse as estrelas, e até fizesse as suas próprias).
Quando se deram conta do adiantado da hora, já amanhecia, a carona dela já tinha ido embora e ele ainda pensava sobre dormir por ali, caso achasse um lugar vago. Ouvindo os passarinhos cantarem, sob a luz de um céu cinzento, eles perceberam que não tinham se apresentado.
- Calvin, mas pode me chamar de Spiff.
- E eu, sou a Mafalda.

2 comentários:

marcia cardeal disse...

Tem que publicar mais! bjs orgulhosos

Caranguejo Excêntrico disse...

*_*