23.11.11

Penumbra e murmúrio.

Andamos despretensiosamente, enquanto conversas nos envolviam lentamente, numa aura de névoa, irreal. Onde estávamos não importava, o caminho tampouco. Importava andar. Importava juntarmo-nos ainda mais nesses mistérios. A nossa persistente racionalidade nos abandonou por aquela noite, e estávamos desamparados, cercados pelos cheiros e sons do mato. Sozinhos em nós mesmos.
O escuro e o frio não nos assustava, mas tínhamos a fome de fogo. O desejo de ver arder, de nos botar em brasas, de ouvi-lo dançar alheio às nossas expectativas. E o exercício lento e contínuo de procurar por folhas e gravetos, quase infantil, foi uma tarefa longa de dois solitários. O encontro foi suado, sorrido, com cheiro de eucalipto e camomila. E meus dedos sabiam seus cabelos colados na nuca.
Fazer o fogo, esperar as chamas lamberem de leve o ar, encantando nossos olhos, já tão cansados do dia. Um abraço silencioso, na grama, selava muitos acordos tácitos que ficariam para sempre incógnitos nos verbos. E então sons que enchem o ar e tiram nossos pés do chão. Braços que se intercalam numa dança sem rumo, rodopios sem panos. Os movimentos nos esgotam, resta um sono profundo.
Que o sol acorda, sobre nossos olhos. Doces.

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