10.4.12

Em exposição.


Arrumando o quarto, não tinha onde guardar minhas malas da mudança. E eu percebi que não tenho nada no quarto que se feche. Sem portas, sem gavetas, sem armários. Tenho pregos, prateleiras, arara, cabides, caixas transparentes. Achei engraçado meu quarto, assim, sem mistérios. Muito honesto, dizendo pra quem olhar: as roupas são poucas, são essas, são coloridas. Os sapatos de salto ao lado dos tênis tão velhos e encardidos. Um punhado de bolsas e sacolas (a maioria afanadas da mãe). Caleidoscópio, massinha, cadernos, lápis de cor, canetinha, aquarelas, câmeras antigas, um postal francês, bolhas de sabão. Minhas sadanas. Uma caixa de postais juntados em mais de 10 anos. Um pedido de casamento, o John Lenin, a gambiarra pra apagar a luz sem levantar da cama (e que me lembra tanto o Michel). Mil canecas, em todos os cantos. Um cofre assaltado. Um tanto de edredom e cobertor empilhado, já antevendo o frio paulista que eu vou sentir. Brincos numa lata, bottons em outra, os coisos de cabelo sempre fora de lugar. Brinquedo de gato. Um saco com cartas que ainda me fazem chorar, ao lado das cartas por mandar. Tudo muito bem junto, tudo tomando seu lugar num todo muito coeso e sem sentido.
Esse quarto tem 23 anos de história, ao mesmo tempo que é uma história ainda fresca, engatinhando.

(daí eu percebi como o quarto todo era uma metáfora pra EU, mas não preciso ser tão óbvia, previsível e chatinha assim.)

2 comentários:

Larie disse...

Que texto mais gracioso!

Se seu quarto é uma metáfora sobre você, nem te conheço e já te acho peculiar.

Beijos. :)

(1ª vez de muitas no blog. Escreves muito bem).

Caranguejo Excêntrico disse...

Ah, Lua. Suas palavras são feito sorvete de chocolate num dia quente no interior. Tem gosto doce de infância, cheiro de café recém-passado e cor de festa de aniversário.
Saudades de você.
:)