18.4.12

Quando o tempo for propício.


A fuga do espaço não alterou minha percepção do Tempo e na terra prometida, os dias se passam um após o outro sem me causar grandes mudanças. Depois de três meses, só agora sinto desmanchar a modorra de medo, deslumbramento, abandono, adultez. 
Aos poucos, Amora Nanquim me faz brotar raízes, as plantinhas na janela me cedem as folhas tão maciamente verdes e os pedais e rodas fazem circular as ideias mais brilhantes. Com um pé atrás do outro, dou passos tímidos em direção ao resto de toda a minha vida. Sem mãe pra amparar as quedas, sem avós para me lembrar quem sou, sem primos para aflorarem o melhor de mim. Sem as minhas mulheres autorizando toda e cada insanidade, sem minhas iguais de mãos dadas puxando esse fardo tão violentamente doce que é mudar o mundo, sem meus amores tortos das tardes ensolaradas e das noites obscuras.
Sou eu mulher, eu passarinha de asas ainda encharcadas, eu sonhadora inveterada por minha própria conta. O medo de me dar ao mundo é saber da exposição de meus erros. Do meu próprio julgamento. Das minhas chances de erro. 

Como que por encanto, o Cosmos se ilumina das cores do arco-íris para o meu Amor. As horas se encaminham suaves, e me convidam para o ar de fora. Cada dia um tanto mais, respiro receosa o cheiro da liberdade. Assumo as possibilidades, ouço os grilos da noite e o galo da manhã. Agradeço aos caminhos o sol da manhã invadindo minha janela, a luz da lua brilhando sobre tudo quanto possuo.
De olhos fechados, sinto os sumos todos me enchendo a língua, escorrendo pelos braços, domando as fúrias e os medos mais fundos. Como se fosse a vida inteira um caminho uno para ter os pés aqui, espero as frutos doces que me trarão maio. 

Um comentário:

Anne disse...

Lindaaaa! sempre encantadora ;)