16.9.08

o Casamento

Era um amor bonito, de uns bons anos. Marcaram o grande dia. O casamento.
Ela escolheu o mais lindo vestido; e foi com linha e agulha que bordou os sonhos todos no corpete.
Ele, era o fraque mais clássico que enchia seus olhos. O mais preto. Viu naquelas costuras firmes a mais profunda galanteza.
A diadema brilhava, feito estrelas.! Era tudo quanto havia de se realizar no caminho. Era princesa.
Artista, de cinema. Dos anos 30. Mocinho.! Tudo culpa das luvas brancas.
Com amor, ela escolheu a gravata mais sóbria. Com a honra do avô, lustrou os sapatos cor-de-noite.
Branco o sapato, de salto. Branco o véu. Era como olhar o manto da Virgem.

Eles esqueceram seus pecados.

Era o mais perfeito rosto, maquilado. Era o anjo branco, que lhe caía nos braços, para todo o sempre.!
Uma lágrima caiu. A beleza dos olhos virginais mais pareceiam os olhos de viúva. Jogou para trás o buquê, nunca mais lhe caíram flores nas mãos.
Ele se embebedou, noite após noite, no cheiro do álcool, no gôzo das outras. O mocinho cheirava mal.
A princesa sumiu, aos poucos. Debruçada nas panelas sujas, atrás das pilhas de roupas, embaixo do nome Amélia.
O galante virou marmanjo no sofá, cerveja na mão - que não cabia mais carinho - , o futebol no olho - que não entrava mais donzela.
Enfiou, junto com o corpete, os sonhos num saco, que jogou no maleiro do guarda-roupa. Comida pras traças, roído pelo esquecimento.

Só se veste de branco uma vez na vida.

12 comentários:

Ygor P. disse...

todo o branco que a gente quer esquecer.

Filipe Garcia disse...

Oi Lua,

A gente sabe que esses clichês de novela só acontecem mesmo na TV. Mas eu me pergunto se, passado alguns anos de matrimônio, o amor realmente se transforma nessa coleção de traças e sonhos mal realizados. Triste pensar que um romance pode vir por água a baixo em dois tempos. Triste imaginar um futuro incoerente com a paixão que faz acender os olhos e saltar confete do peito.

Sei que não existe segredo pra se cultivar um casamento, sei bem disso. Sei também que seu texto é mais real que minhas idéias românticas de "serei feliz pra sempre". O que fica em mim, porém, é essa insistente pergunta: O que aconteceu com o amor que um dia se vestiu de branco?

É bela sua poesia, Lua. O texto todo me marcou pelos versos tristes. Mas, como diria Rubem Alves: "Toda tristeza tem sua beleza".

Um beijo pra você.

marcia cardeal disse...

Sempre gosto muito muito. Mas muito é pouco, ainda assim, no dizer. Imaginei um dia você aqui - iríamos gostar tanto! (quem sabe?). Ah, aquele chico não é ele...era eu desenhando junto com meus alunos de modelo vivo, na faculdade...rsss...era o modelo... =(...beijo

marcia cardeal disse...

Cresça muito não...fique "assim, pequenininha" (como disse Vinícius...)!!! Eu olho essa tua foto e lembro de mim...(muito lá atrás, claro!!) rsss

flor disse...

Muitas vezes o sonho é jogado para o ar. É triste, mas é realidade.
Gostei muito, e, como disse Marcia Cardeal e Vinícius =), cresça não, fique assim, pequenininha.

Ni ... disse...

Ainda bem que existem alvejantes pra renovar o branco da vida... rs

Linda suas palavras...

Beijo e mais beijos...

Átila Siqueira. disse...

Oi Lua, gostei do seu blog, me parece muito bonito e interessante. Depois vou passar para visitar com mais calma.

Me visite também se puder: atilasiqueira.blogspot.com

Um grande abraço,
Átila Siqueira.

Jaya Magalhães disse...

Lua,

Aparecência minha, hoje. Pra te contar do quanto me fez bem teu comentário lá, falando das minhas palavras deixadas aqui e dos efeitos em você, e também falando do texto ‘Conversa de Botas Batidas’ - que já não existe mais. Essa não é a primeira vez que deleto um post. Mora em mim esse gostar instantâneo, sabe? Os textos só permanecem quando consigo namorá-los. E aquele lá foi só um gostar-sem-gosto. Não me vestiu. E eu lá sei gostar pela metade? Ou é do meu jeito inteiro e exagerado, ou nada. Apaguei. [Os comentários estão guardados aqui, claro].

O sumiço, agora. Não gostei de estar longe daqui, de colar nossas palavras. [Aproveitando o momento, aqui ó: jaya_viana@hotmail.com - caso você utilize o messenger, para encontros outros, de aquarela em mãos]. O afastamento meu foi motivo de doença, Lua. Explico depois. Importa é que agora tô aqui. E tô bem. Toda bonitinha você notando minha ausência, sabe? Você é uma fofa, isso sim.

Agora sobre o teu texto, “O Casamento”, ele amarra nas palavras um mundo que sentimentos que já tive em relação a isso. Ao ato de casar-se, e do depois (que se espera e decepciona). Há exatamente um ano atrás eu já havia declarado falida a instituição do casório, com seus vestidos brancos, sorrisos, contos de fadas, felicidades e tralálá e tal. Eu dizia que achava tudo uma onda de submissão enorme. E dizia ainda que se o cara se meter a besta, e abrir suas latinhas de cerveja em pleno domingo, enquanto morre aos poucos na poltrona na qual se deita esparramado na TV e me deixa lavando pratos e seguindo às anotações de Amélia, eu quero mais é poder dar o pé na bunda com a consciência super tranqüila, e passear em cantos outros. Eu dizia, e ainda digo. Faço tudo isso sem pestanejar. É que eu sei ser doce de côco, mas quando sou fria, consigo ser ainda melhor. [Calma, não se assuste... Rs.].

Fato é Lua, que aprendi que amor não é casamento. Só se veste branco uma vez, sim. Se der certo de primeira? Que sejam felizes para sempre! Amém! Se não? É só vestir outra cor. Várias cores. Cor nenhuma. A vida se faz toda enfeitada, outra vez. A questão é permitir-se. É escolha certa. Amor pra vida toda (e casamento), pra mim é isso: escolha. E depois de assim entender, passei a creditar a instituição outra vez. Tem um “felizes para sempre” pra todo mundo, sim. Mesmo que não se vista de branco. Sonho é coisa nossa.

Pra variar, gostei do bom que tua palavra me traz. Eu mastigo elas todinhas e vou saboreando aos poucos.

Meu beijo.

P.S.: Gostoso mesmo seria brincar as luzes de Las Vegas e escolher casar assim, de repente. Haha! Uau, né? Daria uma história interessante. [Atentando ao grau de sobriedade, claro. Nada a ver anular no dia seguinte porque estávamos todos ébrios. Rs.]. Chega de besteira, xô ir. Outro beijo.

Nina disse...

É a realidade. Não de todos, mas de muitos. Vários mundinhos dentro desse texto. De lírico, és belo como um pôr de sol colorido. Contudo, de dor, é de se doer lá no fundinho do espírito. E dá medo de todas as realidade serem assim. Mas há a esperança. Ainda creio que possa ter amor. E ainda há, eu sei qua ainda há.

E sei que foi com amor que escrevestes essas palavras. Amor de poder avisar de alguma forma.

Nina disse...

aqui é sempre tão agradável. Casinha com cheiro de acolhimento! E vem com chá e biscoitos de vovó.

Jaya Magalhães disse...

Lua,

Vim aqui, ficar debaixo do mesmo céu teu, pra te ajudar a segurar o mundo. Segura aqui na minha mão, ó. E aperta. Deixa despencar os castelos. Deixa eu carregar nos olhos um pouco das estrelas tuas. Aí você fica marcada em mim. Fico com estrelas, de Lua.

Deixa a luz ofuscar, então. E deixa desaguar. Faça-se mar, mas em poucas gotas. Não precisa encher, não.

E olha, o achar que gosta mora em mim, também. Carrega até certeza, já.

Meu beijo nocê, trem fofo.

[Sei lá porque eu gosto tanto daqui. É um chegar sem vontade de ir. Como uma prosa gostosa. Em cima dos teus versos, no caso].

Teresa disse...

eu esqueço do mundo por aqui

=*