11.11.08

O céu nublado, a noite já se alonga. Respiro fundo. É bela, a rua da minha casa. Por vezes, acho que o peso da mochila pode cortar meus ombros. E rio. Descer a rua de casa, sozinha, virou um desábito. Coisa que muito me chateia, que é só em solidão que a rua transborda em poesia.
Sinto o vento em brisa, lambendo a pele em brasa. Duvido de antes. Houve alguma noite antes de hoje.? O barro no meu tênis velho, rasgado. 'Muitas noites, antes', ele me diz. A voz rouca, a pele queimada, as marcas: tudo aqui. Corrompendo tempo-e-espaço, meu passado coexiste em mim agora. Tudo em mim palpita.
Fecho os olhos. 24 horas antes, eu estava em cima da pedra mais alta. A insanidade fazia minha mão tocar deus, e deus existia. Deus era azul, com estrêlas. Deus tinha caule, folhas, raízes, orvalho. Deus, era tudo e nada, era a pedra, era cada um de nós. Era a fumaça, o liquido, o sexo. Profanodeus, era deus de verdade. A pedra fria me abraçava inteira, meu umbigo era cordão umbilical de deus. Eu, mãe; eu, filha. O mundo e eu num infinito, sem começo. Respirei fundo, e existir era simples.
O céu cheio de sol, lua, estrêla. De resto, era tudo vaidade.

~*

(felicidade demais assusta.?)

2 comentários:

Jaya Magalhães disse...

Dessa felicidade, eu quero a imagem. Porque ficou a promessa de me puxar pelas mãos, e eu tô quase escorregando, daqui. E fiquei melodiando “Minha Casa”, enquanto você narrava teu caminho poético. Da tua rua de fulôres amarelas, na qual eu passeei aquele dia. E pensei nisso, assim:

“Não quero ser triste
Como o poeta que envelhece
Lendo Maiakóvski na loja de conveniência...”

Prefiro um teatro mágico, e a pedra mais alta. E embarcações de estrelas, quando o céu vira mar. E poesia como a tua, descrevendo a simplicidade do existir. E nessa hora, eu já sou nós duas. Rs.

Bêibe, é aquilo:

“É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe...”

E eu digo, com Vinicius, nesse Samba da Benção:

Saravá, Lua!
:]

Te abraço apertado, demais.
[Até sair suco de laranja - como você diz].

Lavrador disse...

são quase belas as suas palavras...tantos conflitos e dúvidas que delas emergem!?!

O deus que fazemos não é o verdadeiro; o Verdadeiro é Aquele que nos ama e sabe carregar as nossas dúvidas!