19.1.09

olha furtivamente para os lados.
cutuca o nariz, traga o cigarro. aperta os braços, cruzados, como se fizesse frio, e o calor é infernal.
- cadê você, porra. (o modo como intercala palavrões chega a assustar, são sonoros e sutis.)
não se pergunta mais, e o que afirma parece não ser verdade. é como se contasse mentiras que virão a ser verdades, não premonições. só um script bem feito da dita vidareal.
os sapatos vermelhos, de salto, não combinam com o jeans sujo. a camiseta amarrotada traz qualquer coisa escrita, que os braços encobrem.
- aparece. caralho.
os pés doem, é visível. me pergunto se fumará a bituca, e o modo como os dedos queimam me faz pensar se ela não pensava o mesmo que eu.
- ora, ora; diz um velho. puxa o seu pulso. parece frágil, não combina. olha pra baixo, segue a passo lento, o braço se estica como uma coleira mórbida.
quando em vez olha pra trás, como quem espera.

em letras garrafais a camiseta anuncia GODOT.

2 comentários:

Cleyton Cabral disse...

Nossa, ela esperava Godot. Que cena linda!

Michelle, disse...

saudades da Lua.