17.4.11

Love is all and love is everyone.

Estar no meio das pessoas, de novo.
Os pés pisando o chão cautelosamente. Mas não cuidava para não escorregar na lama e sujar o poncho: tinha medo dos vidros, dos vômitos. Os olhos que tentavam ver tudo, mas não para gravar belezas: era um modo de esconder-se dos bêbados, dos drogados, dos violentos, dos tarados. O som ecoava por todas as partes, e era morno e sem vida - tão diferente dos dias que embalaram o meu coração com amoracordes.
A cidade sem amor canta - e canta para quê, para quem? O som é uma desculpa para beber até cair, para desrespeitar vidas, para criar brigas. E lá, os moços cantando. E eu me esforçando, juro que sim, para sentir amor (na cidade sem amor), enquanto duas pessoas gritavam, umas com as outras, a fim de abrir caminho no meio da multidão. (Nessa hora, um menino que não devia ter 15, passava carregado, o corpo muito distante de qualquer coisa que eu chamaria de vida).

Eu passei a minha vida inteira nessa cidade, e cada dia eu me sinto mais fora do lugar. Como se eu fosse uma estrangeira, e que não falasse essa língua. Eu não entendo essa vocação que as pessoas têm para a maldade, a grosseria, a ignorância. Essa enorme falta de cuidado com o outro, consigo mesmo. Não é de estranhar que eu me feche em mim, que eu me esconda dos outros, que eu esqueça do mundo.
Por mais piegas e mesquinho que isso soe, eu quero chorar. Não porque algo dói. Mas porque as pessoas não me dão mais ganas de existir (porque existência sem coexistência não serve de nada). Espero que um dia passe. Não o meu incômodo, mas a náusea que cobre os seres viventes. Se cada um pudesse imaginar o outro... Então, tudo seria inteiro, e completo. Como um ovo, inteiro. E não essa massa podre que chamam de São Paulo; que chamam de mundo.

Um comentário:

Jaya Magalhães disse...

Chorei. Te abraço.