4.6.08

Sobre os mistérios do Universo ou O inatingível

sabe quando você abre a geladeira, tem meio limão e meia cebola no lugar dos ovos?
uma garrafa de água quase vazia e muito gelada? - e faz um frio do cão.
tem um prato vazio que quase parece decoração.
e um potinho, na última prateleira. você olha. imagina quem foi que deixou um incrível pedaço de pudim de leite. quem é que ia esquecer uma torta de queijo tão deliciosa. sabe, até, que se for bolo de cenoura com calda de chocolate você não deve comer, que certamente tem dono.

[...]

e então. com o cuidado de quem tocaria a mulher amada na noite primeira, você pousa os dedos na tampa. sente o frio, sente o calor das pontas escorrer para a tampa azul e quadrada. te emociona tanto, que você ajoelha (nessa altura, os seus olhos já estão a ponto de escorrer). você não sabe o que esperar, a respiração erra. você olha com desprezo aquela luz pálida, gelada: agora você tem um tesouro inigualável em mãos. homem nenhum fez descoberta assim antes. você merece a capa do NYTimes. e sabe disso. você planeja comer quente, um pedaço. e o outro frio. o pote é pequeno, mas seu conteúdo não acaba jamais, você sabe.
trêmulo, levanta a tampa. semicerra os olhos, para apreciar o aroma - será doce? cítrico?

[...]

o inacontecível, o intangível acontece. no cheiro - você não acredita. parece um feijão. ou uma sopa de alguma coisa. levemente marron. levemente verde. nas paredes do potinho, um caldo branco, viscoso. você, num último impulso, num arroubo quase brutal cheira, a fim de provar que é um iguaria. quando o estômago parece querer saltar, é com furia que encaixa a tampa e joga na última prateleira, bate a porta, se pergunta se foi tão cruel, a ponto do universo todo conspirar contra.

- vai dormir com uma limonada de meio limão e água gelada (lavou o suco no vidro sujo de açúcar).
naquele segundo último antes do mais profundo sono, lembra de jogar fora aquela gosma.

Um comentário:

Anônimo disse...

nindinha.