10.6.09

[entrevírgulas, II]

Não pensava em solidão quando aluguei o primeiro sobrado aconchegante que apareceu naquele anúncio de jornal. Não queria mais ser menina, apesar de preservar ainda hoje o robe de seda cor de rosa. Presente de vovó. Não suporto cor de rosa, aliás. E sinceramente, eu não ligo em ter uma cama gigante e dividi-la com um gato. Nessas noites frias me embrulho com dois, três edredons, e ignoro o inverno forçado com uma ou outra dose de absolut, que me faz lembrar o calor dos lábios daquele que já foi chamado de meu, pelos outros.
Hoje, caminhando pela casa e vestida de lua, senti cheiro de música, enquanto Ella fazia explodir todos os meus sentidos naquele jazz só dela. Meu. Aumentei o som, sentei-me em frente ao espelho, e me quis. Escureci os olhos, perfumei-me, enfeitei a boca para combinar com o esmalte, contestando a palidez do meu rosto, e pesquisei a lingerie preta que me traz pose de lolita. O gato buscava carinho em minhas pernas. Tomei-o nos braços, e tive a certeza: eu era o mundo, àquela hora.
Um ou dois suspiros, e uma porta é aberta. Cenas instáveis. Eu lembrava das retinas dele me fotografando milimetricamente. Três horas da manhã. Eu. Ella. Álcool.
- Meus olhos nunca fecham.
Viro todas. De AngélicaBeatrizCarolinaCecíliaRitaGeni, pesam em mim todas as mulheres de Chico de uma só vez. Alterno entre passos trôpegos. Penso em línguas em céus de bocas. Espelho, de novo. Um rosto que não é o meu me observa, com olhos que me botam medo. Me escondia na penumbra de um abajur indiscreto: num canto vazio, te gastava em silêncio.
jaya, do lirícas, escorrendo aos litros.

2 comentários:

Jaya Magalhães disse...

Meldels, isso foi publicado de verdade?

/mariaa

ane. disse...

de mojitos e unhas.
eu gosto, de vestir a cor que a minha boca sente, quando perto da tua.