27.7.09

e no pescoço um lencinho azul, pra disfarçar.

e ao contrário do que todo mundo imaginava, o lencinho disfarçava melhor as olheiras que as marcas da noite.
disfarçava aquela cara cínica, fria. v-a-d-i-a.
disfarçava a enxaqueca recém-cultivada, o canino quebrado e o corte no pé.
sem contar o sangue atrasado, a ânsia de vômito e a tosse persistente que o tabaco guardava em cada passada larga.
um lencinho curto, até com as pontas meio esfiapadas, mas escondia bem as unhas roídas, cobertas com um esmate desses vagabundos, vermelho encardido.
desistiu da roupa toda preta, em nome do lencinho azul.
atou as angústias, deu nó. plantou aquele sorriso pré-fabricado, e saiu pra rua.
e quase parecia feliz.

2 comentários:

Ygor P. disse...

meu daltonismo permite uma certa transmutação de cores, mas o valor das olheiras persiste intacto

Karina Mendes disse...

fiquei imaginando tudo em preto e branco e só as unhas vermelhas e o lencinho azul..