30.5.12

o zéfiro #1

escutar a chuva cair
com cabelos contra o vento
é como flutuar no universo
tremendo, uma serpente cor de sangue
vibrante
mais intensa do que tudo que já foi sonhado
e ao fundo um tambor de macumba.

(tudo existe porque o universo existe em nós)


27.5.12

Imenso final de semana (ou Quando escrevo demais me exponho mais do que eu deveria, mas eu gosto)

Não tenho conseguido escrever contos e não me importo. Queria que a galera libertária fosse intensa, mas não é. Queria segurar a onda das minhas paixões, mas eu nem tento mais.

A cama tem tantos cheiros que eu nem consigo defini-los, e a definição não se precisa. Tem muita pele, muita língua, muito amor e isso me desnorteia de tanto tesão. Como tudo de intenso que vivi, essa paixão começou espontaneamente, como se fosse além dos desejos, além dos planos, além das ideias. Se encaminhou por si só, um imenso nó. Ligeiro, profundo, visceral.
Fico querendo os abraços todos, os braços todos, os afagos, os carinhos, as massagens, a existência tão linda de vocês que o Acaso me trouxe. E nos hiatos, eu escrevo. Mais e mais uma vez, a fim de dizer tudo aquilo que meus olhos podem ter calado - e as palavras se rareiam. 

26.5.12

Me gustan los aviones.

Nem bem acordei porque nem bem dormi. Uma sensação de contínuo: o dia depois do dia e ainda o mesmo dia. Na minha cama bagunçada, uma menina canta e o sono vai e vem, lambendo minhas pestanas devagarinho. Rio, suspiro, preguiço, existo.
Penso em como o tempo passou, o quanto eu mudei e, ainda assim, eu sou a mesma. Sinto falta dos meus amores caídos pelo chão da casa, e a minha neguinha fumando na janela. De repente, estranhos pelo chão e uma bela na janela já bastam pra num novo caminho de vida. As garrafas, as bitucas, as bolhas, os cobertores, corpos em brasa. 
Tudo tão novo. Tudo de novo.

25.5.12

Pré-crônicas de uma sexta de Massa Crítica.

"Realmente essa massa tá cada vez mais crítica." (Cuka)

Imagino que se perder de biciclé às 20h na Farrapos é o equivalente a se perder de biciclé na Tiradentes às 17h. Mas com menos luz. E os micro-ônibus que vão pra Guarulhos deviam fazer estágio com as lotações from hell daqui. 

Gambé só faz gambezisse, e pegaram de encanar com dois ciclistas muito de boa que estava fumando uma ponta. UMA PONTA. Mostrar serviço é foda.

Pela João Alfredo, a rua da chinelagem, eu que sou chinela parei pra ver uma adorável trupe. Bastões de fogo, bolhas gigantes de sabão, acordeon, pernas de pau e uma contorcionista que roubou meu coração.

Antes de chegar, resolvi comprar uma gelada no Betowen Dog. Butecão, e uns senhorzinhos muito avôs cervejeiros ouvindo - olha que coisa - Beethoven num radinho qualquer.

22.5.12

Desdicionarizada #3



Paixão.
4. grande sofrimento; martírio.
5. sentimento, gosto ou amor intensos a ponto de ofuscar a razão
grande entusiasmo por alguma coisa; atividade, hábito ou vício dominador.
7. furor  i n c o n t r o l á v e l ; exaltação, cólera.
9. sensibilidade, entusiasmo que um artista transmite através da obra; 
calor, emoção, vida.



E, de novo, busco abrigo nas palavras, como se elas tornassem mais simples o sentir. Como sempre, as minhas favoritas vêm carregadas de sentidos opostos e complementares, como as confusões que existem em mim. A espera é carregada de angústia, cada minuto antes e depois se enchem de dores imateriais tão físicas. Tão minhas. O tesão de dor e prazer profundamente misturados. Encontro razão em falácias, me engano para entender verdades construídas no ar. E repito infinitas vezes o que sequer acredito, mas tanto desejo.
Disso que me assola a vida, tantas e tantas vezes. Essa inclinação prazerosa a esse sofrimento lírico, devoto, cego. O único jeito que sei viver, entregue, intenso, inteiro. Para sempre espero ser assim. Porque a paixão é minha e para mim. Compartilhar faz tudo tão mais lindo... Mas, em si, já me basta como energia cósmica de me sentir pulsante e viva, de botar cores nas pontas dos dedos, de achar o céu da cidadenamorada cada vez mais lindo. E doce.



(só queria poder escrever bem, ainda que feliz e apaixonada.)

19.5.12

Antitempo, desespaço.

Nas noites todo o frio se desvira em aconchego azul, e as nuvens transbordam minhas imaginárias estrelas. O escuro desvenda todas as sutilezas enroladas num imenso novelo de porvires, que tecemos num acordo tácito. 
Com dedos cautelosos recolho para minha língua suas palavras de brisa e cor. Mastigo ávida, e te ofereço frutos suculentos de imensos pomares. E eles te fazem prazer, o suco escorre pelo queixo e você cheira como um outono. As minhas mãos suadas sabem guardar as sementes, como se esperassem terras propícias para dá-las ao chão, deixar partir um sonho para uma hipótese de flor.

(E na trama que seguem meus delírios e deleites, nuvens se desviram em dedos, azuis se desviram em fumaças e os noturnos se trançam pelo chão, num poema de muitos caminhos, atalhos e desvios; perdidos, encontrados, açucarados. As noites são infindáveis e o sol das manhãs nos acorda muito lentamente - e no paraíso há grama.)

17.5.12

que culpa eu tenho de ser eu?

bêbada.
libertina.
libertária.
amorista.
moralista (admito.)
atrasada.
toda errada.
na melhor cidade da américa do sul.

- e que venha tudo, e que venha o mundo, e que jogue tudo na minha cara lavada, assumo as culpas todas.

14.5.12

O velho e o moço.

Era domingo e lá fui eu. Tão em cima da hora decidi ir que nem tinha expectativas. A única coisa que eu queria era conseguir ingresso. E ouvir Pierrot. Eu fui pronta pra chorar, porque os melhores romances da minha vida começaram - e terminaram - com Hermanos (eu sou clichê e não nego).
Sem que eu pudesse conter, me senti de mãos dadas com todos esses amores. O menino que sempre vai ser um horizonte distante, e tantos anos depois ainda me faz suspirar. A baiana que se desvirou num baú de sonhos bons, para sempre guardado, tatuagem enorme em mim. A cidra e Cher Antoine, que desviraram num beijossorriso da mulher mais confusa da minha vida. A história de Conversa de botas batidas, e o menino mais amado, enrolado nos lençóis de um amor nascendo. Tantas noites gritando pro travesseiro que tudo bem se eu sofro um tanto mais. 
Mesmo com todos eles pulsando, mesmo com meu coração boiando na saudade, nada disso me tocou. Na cidade nova, os amores que se foram são só lembrança, ainda que seja amargo ainda tanto querer. Ainda desejo o conforto de amores previsíveis. Tão melhor saber o rumo que tudo vai tomar, mesmo que num novo começo. Tão fácil começar já sabendo o fim.

Mas eu não esperava me ver de frente. É sempre tão difícil aceitar que eu escolhi ser o que sou, que foram os passos pelos caminhos que me fizeram eu-aqui-agora. Foi fugida dos amores que eu vim, fugida da rotina, da previsibilidade, do que eu já sabia. Eu vim porque eu não sei medir tempo nem medo. Porque eu preciso de todo cuidado, mas nem sempre eu lembro disso. E da idade em mim, tento não esquecer nem pesar demais, e estragar só o quanto posso. Sem saber do que virá, sem desistir dos erros futuros, o acaso segue amigo do meu coração. Como sempre.

4.5.12

Diariamente.

O cheiro de comida pela casa, os amigos pelo chão, a gata ronronando feito um motorzinho. A bicicleta e seu lindo sininho esperando pela próxima aventura. A saudade mais sincera, a espera do que não sei bem o que. As lembranças que me assustam e me fazem rir, os sonhos mais doces que podiam me vir. Fotos nas paredes, lençol de mãe, edredom de vó, os livros roubados. A lua na janela, o céu azul que insiste em tanta estrela. As unhas roídas, o esmalte vermelho, o casaco no sofá.
Sem querer vou perdendo o sotaque, arrisco um tu, aprendo uma geografia nova. De pouquinho vou perdendo velhos hábitos, mudo a personalidade, navego em outras direções. De repente, já não sou mais estrangeira. 
Um som antigo com ares de novidade, uma cerveja gelada e as meias me fazem sentir, até que enfim, em casa.

3.5.12

eu não tenho segredos.


nem graça.
nem dinheiro.
nem violão.
nem par.
nem diploma.
nem casa nem carro nem nada.


(só tenho um muso tatuado pros meus poeminhas pernetas.)