16.10.12

Além do que se vê.

Acho bonito quando te vejo assim, sem a pose. Te vejo menino e descabido, absurdo, doce. Sinto uma vontade imensa de te prender entre os braços e conversar amenidades, porque sei que você entende das coisas mais profundas de mim.
Espero que o tempo seja leve, que o caminho tenha mais prazer que dor, que venham mais noites que tempestades. Sigo o caminho ruminando as ideias e os sentires, esperando que minha luz torta te sirva de lanterninha no caminho. 
Quero te escrever coisas bonitas, mas me falta verbo. (Você escreve melhor que eu, e mesmo assim eu tento)

Te amo.

12.10.12

Casa.

fecha-se a porta do bar, os trôpegos saem.


- Olá, mundo. Ou você roda, ou eu estou louca. Olá, loucura, quanto tempo! suspiro. As belas mulheres continuam aqui, as doces amizades também. O céu é ainda brutalmente azul, e o sorriso ainda sai espontâneo.

canta na rua vazia, e dança acompanhando o passo: Bom dia, mundo, é hora de dormir.

infinitas escadas: (O mundo acabar, 
a noite ter seu derradeiro fim. 
Sem uma saideira. 
Beber a cama, 
as nuvens acumuladas sobre o céu de cetim. 
Um trago dela 
um trago dele
 e fim.)

26.9.12

Quando foi, já não quis

De sonhos intranquilos, um susto me acordou. Lentamente, tomei consciência de mim. De você. De teu corpo apertado contra o meu. Dos cheiros da nossa saliva e da nossa transa. Esses cheiros velhos conhecidos, sua  pele que meus dedos sabem de cor, meus cabelos enrolados nos seus. Te descubro entre meus braços, respirando calmo teu sono sobre meus meus poros.
Te olho, e você não me comove mais. Não tenho mais ganas de desbravar seus sorrisos nem lamber suas lágrimas. Não quero mais entender seus mistérios (os mistérios que já conheço, acho enfadonhos, aburridos, sem graça). Não sinto mais meus futuros encarcerados nos seus caminhos, seus dedos não podem mais desabrochar meus segredos. Enquanto você dorme, não me lembro da cor de seus olhos. 
Engulo seco, minha racionalidade me convence aos poucos. Ainda assim, meus olhos marejam, eu busco no seu suor delicado qualquer essência de amor. Viro seus braços num abraço em mim e, encarcerada na sua pele, murmuro e peço para sentir eternidades.  
Rumino o que será dos meus desejos, que tanto quis eternos. Dos meus sonhos de futuro, abrigo tranquilo na contramão dos dias de terror e amor. Penso no que simbolizava esse querer bem: as esperas adolescentes. O  pé no passado, estanque, eterno, imutável. A raiz latente de flores monogâmicas e frutos-filhos. O desejo pueril de um conto de fadas moderno, um final feliz démodé, com dedos enrolados e rendas de cumplicidade, tecidas com calma pelos passar do tempo. Penso na distância em que essas possibilidades se perderam, descabidas, sem sentido, retrógradas. 

Te acordo, para dividir mais um orgasmo.
Fumamos em silêncio, cansados e sorridentes. Sei dos encontros que ainda vão acontecer, porque nossa pele é feito um ímã. Entre um beijo e outro, tento entender o que somos nós dois, e por que somos assim, mas a adrenalina e a nicotina embaralham as minhas ideias.

Como brilho eterno de desmemórias esfumaçadas, te enxergo enquanto adormeço. Você parece um sonho encostado, empoeirado, entre cílios e memoráveis acordes.

23.9.12

Cinematográficas #01

Hoje acordei e pensei: se a Audrey se vestia assim, o que me impede?
Me vesti de beatnik.



(não saí de casa.)

11.9.12

Ode aos óculos.


Nunca vou me esquecer de quando descobri que precisava deles. A minha primeira reação foi culpar alguém (coisa que faço muito bem, distribuir culpas aleatórias). Depois, fui comprar os malditos óculos. Chorando. Quando experimentei o vermelhinho, a luz se fez em minha vida. Ele combinava com a minha cara inchada e meu nariz vermelho: meu óculos ornavam com o drama. Ele me escolheu. 
Lembro de quando eu não sabia limpá-lo direito, e ele sempre estava coberto com uma leve camada ensebada e empoeirada. Da demora em aprender a tirar os óculos antes de beijar. De quando todo mundo saía procurando meus óculos, putos comigo, porque eu o tinha pendurado num lugar idiota: num cabide, junto com a toalha do banheiro, no puxador do armário, no freio da bicicleta. O incrível poder de transformar todo homem num arquiteto viado. Todo mundo dizer: se não tem grau, pra que é que você usa? A horrorosa sensação de acordar depois de ter dormido com a cara enfiada no óculos. O momento da noite em que com-óculos-sem-óculos-tanto-faz, já tá tudo borrado e brilhando, mesmo. A experiência de andar na chuva e as gotas virarem estrelas na lente. O dia que eu pinguei colírio achando que esta sem ele, a gota escorreu na lente e eu não entendi nada. O Psicodália em que dançamos Confraria da Costa em cima dele, e passar o carnaval sem eles. As várias vezes que ele batia no óculos de outra pessoa. Ele mais torto que minha cara nos últimos meses.
Foram 3 anos juntos. Meu primeiro par de óculos. A dor e a delícia de ter eles na cara quase todo dia. Um triste fim pra um amor mal ajeitado.

27.8.12

Banzo.

Não quero ir, não quero ficar.
Não quero ser daqui, eu não sou de lá.
Quero viver sem essa eterna espera do que eu nem sei o que é.

1.8.12

Declaradamente #2


Na agonia da insônia, pensei em você. Acho seus olhos engraçados, mas tenho vergonha de dizer. Miúdos, espalhados, são olhos engraçados, meu bem. Fiquei lembrando da primeira vez que me vidrei em você. Eu desarmada e tu me diz: é, e tu fica linda assim. Eu, que nunca vali nada, fiquei toda derretidinha nas suas doçuras, e queria fotografar seus olhos naquele instante. Insanos, loucos, apaixonantes. 
E eu, que gosto da tua boca e do teu cheiro e do teu sexo e dos teus pelos, fiquei gostando muito de tudo, e achei até que era um gostar meio errado. Fiz errado, porque é o que faço melhor, e num mar-de-verbo falei tudo aquilo, que eu nunca devia, do pior jeito e fiquei quadrada, intranquila, medrosa. Mas o tempo foi amigo, andou e desachei errado. Achei até bem certo, ser de impulso nos amigos do estrago.
Fiquei querendo dedos-abraços-segredos-tempos-colados. O tempo foi virando fumaça, os encontros rarearam, e com eles a paixão. Fico, boba, com o coração molinho de te ver, todas as vezes. Mas fico pensando, em suspiros, que tenho mais saudade de ver seus olhos calmos e saber que tenho um cúmplice de sempre, de todo dia, meio adolescente, de contar meus medos sem ficar vermelha. E abraçar.

Ah, não existe coisa mais triste que ter paz.