18.2.10

Sobre Os Fins, Os Começos E Os Meios Que Usamos Para Isso (E É A Que A Coisa Pega) ou O Que Importa É O Que Te Quebra Em Duas Cidades

Na verdade, acho que deixei de acreditar nos fins, porque eu nunca me lembro dos começos, que não os simbólicos, e eles valem só pra contar pros amigos quando a cerveja já não basta pra divertir as noites. E mesmo os marcos simbólicos poderiam ser transmutados em qualquer outra coisa, SE não fosse assim, SE tivesse acontecido assim.
E qual é a diferença dos fins? E mesmo os gritos, e mesmo as ausências, e mesmo os copos quebrados. E que resta do amanhã que é abrir os olhos e não saber se aquilo é tristeza extrema ou um porre que deu errado?
E essa pequena fissura de pensar os porquês, os senãos, os meio-termos, os porque-serás me faz pensar em CRISE. E o que me assusta é que as minhas crises que abrangiam o mundo inteiro, e depois, estão cada vez mais solitárias e se cabendo nas suas solidões.
A imensa profusão de pessoas nesse clima de férias-carnaval-desemprego faz tudo parecer muitíssimo promi/omi/repre-ssor. Não quero que isso acabe, por nuncas, mas não queria que tantos significassem menos pedaços de luas espalhados por aí, e cada vez mais aglutinados em Luaras, mas que merda de crise identietária.
E o pior, é saber que a solução dos males de lua não estão no Guaíba. Que a minha água gaudéria tem lá umas dores de cabeça bonitas redondas bem fornidas, que são capazes de estrangular mais que as dores desvairadas da paulicéia.
E então, o minimistério de lua não se resolve em outros, outras, sejam espaciais ou lugarejas. Talvez seja um minimistério tão-do-tamanho-do-universo-inteiro-e-as-estrelas-todas, que eu nunca consiga desvendá-lo.
(Por favor, não deixe ser um minimistério tão minimi, que não seja de tamanho nenhum.)

11.2.10

Amarillo un caramello, caramello de limón.

O Narrativo havia caminhado o dia inteiro. Percorrido distâncias em busca do outro, da narrativa do outro. Tinha esse prazer singelo e austero - que poucos têm - com a troca. Não era uma relação de consumo do discurso do outro, mas de coexistência com ele, de viajar com ele, de alcançar com ele.
Formava-se dentro do Narrativo um universo de bonitezas que se bagunçava sem parar - com estranhamentos repentinos, sustos pulando do peito e ternuras brotando dos lugares mais inimagináveis.
E tanto procurou que um dia topou com a Lua-menina, que rabiscava castelos e possibilidades onde havia nada, ou coisa nenhuma. As estrelas, sem lhe ceder brilhos, nem aluguéis, eram pontos tantos de destino sem fios, e solidão.
Lua não sabia caminhar para esperar o outro, era estanque e de olhos a desvelar passados, desfingir futuros - mas só os que não viriam.
Do encontro, não se sabe a invenção ou a lembrança. Nos olhos de Narrativo havia parecença, aquela cumplicidade simples que se tem, molhada de solidões esparsas.
Eram dois estranhos, que agora alinhavam os ombros, e se tinham de olhos.



com o fêli.

9.1.10

tv a cabo.

se desse pra transformar as vidas em coisas televisivas, acho que eu ganharia tubos de dinheiro. mesmo.

a m. dava um filme americano independente totalmente indie. com trilhas sonoras alternativetes e fofas. CARA dela, e do romance mais cute ever.
o a. viraria fácil um filme do almodovar. as cores, as mulheres doidas, os dramalhões familiares. antónio banderas como o personagem principal, e a márcia como a penélope cruz, fato.
o c. entrava bem numa novela mexicana de alta linha. as intriguinhas, as mulheres, tudo dando certo-errado-certo. e os fabulosos almoços de domingo em família. (regado, é claro, a tangos argentinos)
o e. seria um seriado, na linha de skins, fato. as festas, as mulheres complicadas, as temporadas com mudança de figurino. uns episódios cômicos e aqueles que te fazem desligar a tv e ir tomar vinho porque, oi? tá foda. e você precisa ver o próximo episódio.
o y. só podia ser um filme francês (fazer o quê?). nouvelle vague, longos takes de charmosas moças e garbosos homens fumando docemente.
o b. dava uma novela das 8, e ele faria parte de todos os núcleos - borderline allowed.
a e. virava fácil um filme nacional, de 70. aquelas roupas altamente estilosas, sexo a granel, bossa nova e tropicália na trilha. uns dramas infinitos, e a vontade de uma festa ao sair do cinema.
a j. seria um especial de fim de ano, mas dirigido pelo selton melo. fotografia boa, umas idéias simples, e uma melancolia só pra dar o tom.
a l. seria um documentário em primeira pessoa, gravado com uma câmera de mão e editado em casa. picos sentimentais, de todos os tipos. (premiado pela mtv, e ela não foi à cerimônia de premiação)

e eu? eu não ia entrar na programação. porque a minha vida parece um sitcom do fantástico. (pronto, falei)

17.12.09

me olhei no espelho a cara muito limpa. 'muito limpa' era tudo que eu tinha a pensar da minha cara. nenhuma maquiagem, o óculos esquecido em algum lugar e nenhum grande mistério. 'nenhum grande mistério?' eu me perguntei enquanto olhava praquele branco fingido da parede. 'é, nenhum grande mistério, eu diria que nem mesmo um pequeno'. uma certa angústia, daquelas mais genuínas, de filme em branco-e-preto, quando logo na primeira cena a mocinha olha pro céu, tempestuoso. talvez ela saiba o que está acontecendo ali, mas você não. e então, e como se eu fosse espectadora de mim mesma, e minha forma de me olhar era aquele mistério, aquele mistério crucial, de quem não sabe, , e eu não sabia, e ainda não sei.
de um jeito que magoa muita gente, é esse gosto, café-com-cigarro, até aquele infeliz pigarro da madrugada que me aguça mais, talvez seja o melhor sabor, aquele que eu espero depois de cada prato, porque - já disseram - parece que vale a pena comer só para saber que há um cigarro, depois.
no outro espelho, eu tinha qualquer coisa de mistério, e não é algo que me encante que haja tantos espelhos em todos os lugares, a todo o tempo. sei que não é isso que interfere tanto, mas sua própria imagem costuma cegar seus olhos para o resto do mundo, mesmo que se precisa torturar alguns psicanalistas a fim de provar sua tese.
enquanto fumo um cigarro, esperando, olho praquele espelho encantador, atrás de uma prateleira de bebida, e penso que take genial. alguém sóbrio que se vê através da bebida: e então são 10h da manhã e tudo que eu mais desejo, genuinamente, é uma densa dose de whisky e mais um trago daquela solidão esmagadora.
penso se vale a pena escrever, ando com as palavras muito ruins. desisto, demais. mas, no fim das contas, eu não posso parecer tão vulnerável, e penso em rodar um filme.

17.11.09

Manual Lua da Crise & Caos. Lição 1 - Preparo para a crise: o contexto psico-emocional.

Não pense que é fácil. Não pense que é simples. São 20 anos de prática, e às vezes eu ainda preciso de ensaio. Mas levando em consideração que tem gente que não consegue ter uma crise porque o black dog não tem mais salsicha de soja, eu posso dividir com os pobres ponderados e pés-no-chão umas dicas de crises bem feitas.
É preciso planejamento, prática e cara de pau, muito e grande. Por partes.
É preciso de um motivo absurdo. Crise porque perdeu o emprego qualquer zé ruela pode ter. Foda mesmo é ter crise porque a Risqué não produz mais o Cereja. Isso sim é motivo pra uma crise. Mas quero abarcar uma maior parcela de meus (oooooohohoho) leitores. Então, vamos usar um motivo realmente doloroso.
Motivo: Você não pode ir a um show dos Beatles. N-U-N-C-A. Antes de rir, pense bem. Você NUNCA vai poder berrar BlackBird com os braços pra cima, enquanto o J. Lennon aponta do microfone pra galerê. Você NUNCA vai poder beijar o homem/a mulher da sua vida enquanto a guitarrinha de Something faz corações derreterem. NUNCA vai ter uma tag de foto no orkut na setlist colada no chão do palco, e a bordinha do pé do Paul. Sacou? É dramático.
Posto isso, fica tudo muito simples. Mentalize a sua necessidade física de ir ao show dos Beatles. Repita mil vezes: eu vou a um show, eu vou a um show, eu vou. Assista vídeos. Ensaie cenas. É preciso acreditar que você poderia ir se não fosse...
... Agora vem a parte difícil. A Arte de Atribuir Culpas Aleatórias.

[em breve, ou não.]