27.12.11

saudade.

não foi a minha avó fechando a cara, não foi nenhum discurso sobre a faculdade, não foi o silêncio e olhos brilhantes da minha mãe. não foram as luzes das janelas na paulista, não foram os bares na augusta.
só ela chorando de óculos escuros na esquina, às 11 da noite. xingando.

caralho, novinha, que isso?

1.12.11

penso quantas vezes em um dia quero te encontrar.

E, antes que eu consiga pensar como revidar os impropérios que o mundo diz, eu sei que você saberia a resposta. Mais que isso, que você saberia a resposta que eu preciso ouvir. Porque fazer as escolhas que fazemos não é fácil. Nunca foi.
Você tem aquela coisa enraizada em você. Aquela coisa que te faz ser linda, e forte. Eu não sei entender, eu só consigo olhar e me sentir tocada por isso. Porque você tem luz. Porque não me importa o quanto nós consigamos errar pelo caminho - e nós estamos erradas, não tenha dúvida - insistir no erro é o que devemos fazer. É o nosso devir.
É não aceitar as regras nas pequenas escolhas. Em cada uma dessas escolhas que me fazem querer desistir da vida. As minúsculas escolhas em que o nosso miniuniverso desaba, em lágrimas e bolhas de sabão.

Quando eu tomo consciência da sua existência, menine, eu sei que eu estou certa. Porque ter uma mão pra me amparar cada vez que eu sei que o próximo passo vai me lançar em mais um abismo dentro de mim, e se não houver um pé cravado na realidade, eu nunca mais voltarei. Você é a volta. A cura.
A cura pra desgraça de existir em mim.

(esse é meu jeito escroto de declarar amor. amor que não é boa noite.)

29.11.11

- penumbra, 02

Pisco os olhos com muita lentidão. Os músculos pedem descanso, mas a racionalidade me impele a continuar um tanto mais. Pisco ainda mais devagar. Dentro das minhas pálpebras brotam flores, e grãos de poeira brilham vagarosos num sol morno, que só eu vejo. Um sol morno que aquece minhas ideias, ilumina os desejos mais secretos.
A suavidade da água ao tocar os lábios, ao escorrer cristalina, não esclarece meus mistérios turvos. Uma certa confusão de pensamentos emaranhados, que eu nunca entendo, que eu nunca ordeno. E a água não mata a sede, meus lábios estão ressequidos de saudade das tuas palavras, da tua língua, dos teus olhos.

*

E então os cílios colam-se e piscar desvira-se num sonho lúcido, em que sinto nas mãos a sua pele tão clara, as pontas dos dedos desenham imaginariamente o sorriso tão raro de lhe escapar. Me encaixo em seus ângulos, e seu cheiro pousa sobre toda a minha pele e não tenho ganas de me soltar. A memória pisca e reacende: o meu nome sussurrado entredentes quando me repreendias cheio de entrega e arrepios.
Vão caindo, assim, um a um: a vergonha, o medo, o pudor. Sei do erro, mas não poupo gestos nem palavras para a entrega, total. De repente, me sinto tão sua que já esvazio-me de mim. E é um vazio perfumado e calmo, é um vazio consentido.

Sorrio, de olhos muito abertos. Sei de ter nascido pra esperar o horizonte, e salgar o ar. Meu coração é de espera. Como quem espera cartas, todos os dias.
(O meu amor é de vento e pólen, que brinca e se ri de florir longe.)

23.11.11

Penumbra e murmúrio.

Andamos despretensiosamente, enquanto conversas nos envolviam lentamente, numa aura de névoa, irreal. Onde estávamos não importava, o caminho tampouco. Importava andar. Importava juntarmo-nos ainda mais nesses mistérios. A nossa persistente racionalidade nos abandonou por aquela noite, e estávamos desamparados, cercados pelos cheiros e sons do mato. Sozinhos em nós mesmos.
O escuro e o frio não nos assustava, mas tínhamos a fome de fogo. O desejo de ver arder, de nos botar em brasas, de ouvi-lo dançar alheio às nossas expectativas. E o exercício lento e contínuo de procurar por folhas e gravetos, quase infantil, foi uma tarefa longa de dois solitários. O encontro foi suado, sorrido, com cheiro de eucalipto e camomila. E meus dedos sabiam seus cabelos colados na nuca.
Fazer o fogo, esperar as chamas lamberem de leve o ar, encantando nossos olhos, já tão cansados do dia. Um abraço silencioso, na grama, selava muitos acordos tácitos que ficariam para sempre incógnitos nos verbos. E então sons que enchem o ar e tiram nossos pés do chão. Braços que se intercalam numa dança sem rumo, rodopios sem panos. Os movimentos nos esgotam, resta um sono profundo.
Que o sol acorda, sobre nossos olhos. Doces.

22.11.11

Eu preciso mudar o mundo - mesmo que eu não ganhe nada com isso.

Eu não entendo porque a paixão com a qual me devoto a tudo não é o bastante. A paixão de um nunca é o bastante, nunca supre esses vazios que insistem em persistir por entre as frestas, por entre os dedos, entre os projetos. O desejo de um não muda o mundo, porque um é muito pouco, um é muito só, um é muito frágil. Entregar-se não significa que as pessoas saibam receber, sangrar não significa que as pessoas saibam cuidar.

MAS.

A vida insiste em me entregar caminhos, em abrir passos em que meu coração fica amparado, abraçado por esses humanos tão demasiadamente gente. Tão demasiadamente quentes, moles, intensos, pulsantes. Eu não resisto à essa força que só essas pessoas tem de me fazer inspirar, quando o passo é de cair, quando o rumo é se perder, quando tem fumaça demais cobrindo as minhas estrelas.

E.

Ainda que se respire, eu não consigo pensar em tantos de nós caídos pelos caminhos, tantos abraços partidos, tanta gente que vai morrer. Eu não consigo endurecer, não dá para passar concreto nessas humanidades que a cidade destrói, que o bicho homem corrói. Porque um a menos é muito a menos, é muita perda, é muita dor.
Eu sigo amando cegamente, tudo quanto vejo e sinto. Sigo amando cegamente tudo que desconheço e não entendo; e então minha voz insiste em fraquejar, meus olhos chovem muito. Porque tantas vezes parece que sobrou um só, um bloco do eu sozinho, tremendo de medo contra um mundo gigante, e sem sorriso.

Me dê sua mão?

1. Existência

Você não está aí por acaso. A existência precisa de você. Sem a sua presença, algo estará faltando na existência e ninguém poderá ocupar o lugar. Isto é o que lhe confere dignidade: saber que a existência inteira sentiria a sua falta. As estrelas, o sol e a lua, as árvores, os pássaros, a terra -- tudo no universo sentiria que um pequeno lugar está vago, o qual não pode ser ocupado por ninguém mais, a não ser você.
Isto lhe dá uma alegria enorme, uma comprovação de que você tem a ver com tudo o que existe, e de que a existência preocupa-se com você. Quando você está purificado e transparente, você poderá perceber uma imensurável quantidade de amor derramando-se sobre você de todas as dimensões.

Osho God is Dead: Now Zen is the Only Living Truth Chapter 1

Esta figura nua está sentada sobre a folha do lótus da perfeição, com o olhar perdido na beleza do céu noturno. Ela sabe que "lar" não é um lugar físico no mundo exterior, mas uma qualidade interna de relaxamento e de aceitação. As estrelas, as pedras, as árvores, as flores, os peixes e os pássaros -- são todos nossos irmãos e irmãs nesta dança da vida. Nós, seres humanos, temos certa tendência a nos esquecer disso, enquanto procuramos cumprir nossos compromissos particulares, e acreditamos que é preciso lutar para conseguir aquilo de que precisamos. No fundo, porém, nossa sensação de estar à parte é apenas uma ilusão, criada pelas preocupações limitadas da mente.
Agora é chegado o momento de verificar se você está se permitindo receber a dádiva extraordinária do sentir-se "em casa", onde quer que você esteja. Se estiver, assegure-se de dedicar tempo para desfrutar essa sensação, de forma que ela possa aprofundar-se e permanecer com você. Se, por outro lado, você tem se sentido como se o mundo estivesse à espreita para pegá-lo, é hora de fazer uma pausa. Vá lá fora esta noite, e olhe para as estrelas.